Que história é essa do líder servir? Para se obter resultados, os liderados não devem servir ao líder? Não está havendo uma inversão de valores? Parece que essa foi a intenção do autor desse estilo de liderança, a de causar impacto para vender o seu livro e, com isso provocar discussão e mídia em um assunto que tem pouco para inovar em termos de conceitos e práticas. Será?
Confesso que no primeiro contato com esse tipo de liderança, não me soou muito bem e durante algum tempo evitei ler sobre o tema e, não havia interesse da minha parte em alimentar a venda de uma obra que parecia inócua, até que saiu o segundo livro, que tratava de ferramentas para a prática da liderança servidora.
Nele deparei com os fundamentos que se assemelhavam a prática tanto as que eu ensinava nos meus cursos, como aquelas que utilizava enquanto executivo à frente de equipes. Depois, tive outra confirmação em uma entrevista do diretor da Sodexho Pass, Sergio Chaia, sobre a forma que ele conduz sua equipe. Esses fatos me convenceram a pesquisar e aprofundar sobre esse tema.
CUIDAR BEM DAS PESSOAS QUE CUIDAM DO NEGÓCIO
Lembrei-me de um diálogo que tive com o empresário João Jabur. A Empresa Jabur Pneus perdeu, durante a crise, US$ 120 milhões na bolsa de valores. Teve a sua estrutura abalada e quase quebrou. Hoje, alguns anos depois, estão recuperados e mais sadios que nunca.
Perguntado sobre a fórmula da recuperação, durante um treinamento que ministrava em Maringá, ele me disse: “Não conheço muito das novidades de administração de empresas que ocorrem todos os dias e que é divulgado pela mídia, o que faço é cuidar das pessoas que cuidam do meu negócio. Se eu contratar bem um colaborador, suprir suas carências, desenvolver suas habilidades, saber motivá-lo e o acompanhar nas suas dificuldades, ele vai fazer com que meus negócios dêem certo. É nisso que acredito”.
Alguns anos depois entendo essa atitude como Liderança Servidora. Mas como chegar nessa resposta tão sábia e tão óbvia? Ela está nos princípios, essência e práticas que veremos a seguir.
A autoridade como princípio e o caráter como essência
As características do Líder Servidor estão fundamentadas nos princípios da autoridade que é conquistada. Não é isso que ocorre nas empresas? A maioria dos gerentes que conquista sua posição é através dessa influência, portanto.
Nessa posição pode demonstrar sua crescente influência e serviço pela disponibilidade em ensinar e desenvolver pessoas, estimulando-as a crescer profissionalmente, portanto, servindo-as, numa manifesta vontade em ajuda-las a crescer e desenvolvendo suas habilidades. O líder se realiza através de outros.
A prática da Liderança Servidora está ligada diretamente ao caráter do líder. Assim, tem a ver com seu autocontrole que gera a paciência necessária ao tratar com as pessoas. O Líder Servidor tem habilidades para encorajar talentos, gentileza no trato e demonstra humildade, portanto, não é arrogante. Possui respeito e tolerância a outros pontos de vista e molda novas idéias. O altruísmo está em entender às necessidades das pessoas primeiro, para que se sintam engajadas e assim, atingir os resultados em equipe. A mais importante das características, com certeza, é a honestidade, gerando responsabilidades. Assim, cria a fidelidade nas pessoas e na equipe. “São as qualidades de caráter que permitem alguém inspirar e influenciar um grupo de pessoas com sucesso.” (US Marine Corps).
As práticas da líderança servidora
São ferramentas práticas fáceis de compreender e de aplicá-las, o que é necessário é abrir a mente para uma nova maneira de liderar.
- O brilho, que mostra ao líder como lidar com o sucesso e não deixar que ele atrapalhe a visão clara no seu papel e na sua posição de pessoa significativa;
- A cadeira, que é uma alusão à forma de resolver os problemas toda vez que ele surge, tendo a colaboração como base para a busca da solução;
- O espelho, que é a forma de manter o seu reflexo nos liderados e entender as pessoas interpretando-as, o que proporciona uma identidade única;
- A água, que permite moldar-se aos diferentes ambientes e preenche-los com a energia necessária para absorver as mais poderosas forças naturais;
- O feixe, numa demonstração de unidade, possibilitando a força do conjunto e a contribuição e o alinhamento de foco, gerando sinergia para os resultados;
- Os óculos, que são filtros para perceber melhor os outros, e que ajudam a dissipar as barreiras mentais pré-estabelecidas onde julgamento e preconceito bloqueiam o relacionamento e a comunicação.
Estes instrumentos foram montados a partir do livro Como se Tornar um Líder Servidor de James C. Hunter editado no Brasil pela Sextante e de uma interessante síntese de Sergio Chaia, cujos princípios também podem ser encontrados, em outra forma de abordagem no livro: Liderando Equipes para Otimizar Resultados de minha autoria, editado pela Saraiva.
Dúvidas e confusões
Muitas pessoas se perdem como líderes nas empresas porque conquistam a posição pela competência técnica e a partir daí querem “ser servidos” e para isso exercem o poder. Para esses líderes, os instrumentos estão no comando e no controle, no evitar riscos e em descobrir erros, punindo culpados e demonstrando sua força, que pensa ter.
A autoridade está em apoiar pessoas, inspirar, desenvolver, compreender e correr riscos, além de compartilhar responsabilidades aprender com os erros e ouvir. O líder é capaz de sacrificar-se para o bem de todos.
Os chefes exercem poder e obediência forçando a obtenção dos resultados.
Os líderes influenciam os seguidores a obterem os resultados.
È só pensar nos grandes líderes influenciadores da humanidade e nas suas realizações que perduram até hoje. Jesus, o maior deles, Mandela, Gandhi, Madre Tereza, Luther King, para citar alguns. Compare-os com aqueles que mais prejudicaram a humanidade, Hitler, Bin Laden e Sadam Hussein.
Nisso não há dúvida e não há confusão.